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SPFW N58: O protagonismo do jeans e a celebração da moda nacional

A 58ª edição da São Paulo Fashion Week, que aconteceu entre os dias 16 e 21 de outubro, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, no Shopping Iguatemi, e em locações externas de São Paulo, apresentou uma homenagem a icônica figura da moda, Regina Guerreiro – jornalista, editora e diretora criativa.

Já com um respiro a mais no pós-pandemia, logo na entrada do QG no Ibirapuera, percebe-se uma volta ao passado, pelo burburinho, pelos convidados fashionistas que se “montam” para ver e serem vistos e pelos patrocinadores que voltaram com tudo, tanto nas passarelas quanto nos stands (que substituem os antigos lounges de edições passadas). Uma cena “déjà-vu” me vem à mente quando me deparo com as filas para participar das ações propostas pelas marcas presentes. Temos um pouco de tudo: no espaço do Mercado Livre (que também esteve presente na passarela) os convidados desfilavam em uma palco montado no local com direito à foto, vídeo e uma sacola com brindes. O C6Bank promoveu um vídeo em slow motion onde a pessoa tinha acesso pelo QR-Code. No Sebrae várias propostas interessantes que chamaram a atenção – desde maquiagem com pedrarias (me lembrei do sucesso dos espaços da Natura e O Boticário onde tinha maquiagem e experimentação de produtos), uma arara com peças customizadas e stylings à disposição para orientar sobre os looks, sessão de fotos e até desenhos em um painel de tecido que posteriormente servirá para a confecção de alguma peça. A Stanley também se uniu ao mundo da moda com sua garrafinhas e copos estilosos e que eram vendidos no local.

E a fofura do stand todo rosa, da Fini que trouxe o slogan ‘It’s Fashion, it’s Fini’ com uma cabine de vidro onde o público entrava e, em meio a uma ventania de papeizinhos, pegava um cupom que dava direito a um brinde exclusivo: milhares de produtos Fini e itens como brincos, ‘charms’, ecobags e bucket hats que podiam ser personalizadas na hora pelo ilustrador OTS.

Com o uso de inteligência artificial e da neurociência, quem passou pelo stand da Ypê, teve a oportunidade de co-criar estampas geradas ao sentir as fragrâncias dos amaciantes concentrados da marca.

Com a proposta de levar a sinestesia para o SPFW, a marca contou com a parceria da agência DPZ na construção de um lounge que expande a conexão sensorial dos consumidores. “Os sensores usados na ativação captam as ondas cerebrais dos visitantes ao sentirem as fragrâncias dos Amaciantes Ypê e as transformam em dados visuais. Com a ajuda de um software de inteligência artificial, esses dados são convertidos em padrões de estampas, proporcionando uma experiência única e personalizada para cada visitante,” explicou Leandro Dolfini, diretor de criação da DPZ.

A lojinha da SPFW com diferentes marcas também estava lá no subsolo.

Em tempos onde todos são cinegrafistas, repórteres e criadores de conteúdo, a cada metro via-se alguém fazendo um vídeo, descrevendo algo, apresentando o espaço ou simplesmente exaltando a felicidade de estar ali. É bom lembrar, que esta edição foi aberta ao público mediante a compra de ingressos, o que já aconteceu em eventos recentes. Óbvio que a SPFW precisa de receita, óbvio que o público gera mais exposição, e principalmente, a volta das celebridades, seja como convidado ou desfilando para a marca, a mídia dobra ou triplica, dependendo de quem seja.

Fotos de revistas antigas e a exposição em homenagem à Regina Guerreiro, confirmaram que o passado continua vivo e a moda é atemporal.

SPFW volta a ser uma experiência gostosa de visitar, não somente através dos desfiles, que muitos não têm acesso, mas para reunir essa tribo que ama o evento, que exala glamour, poder, conhecimento, sustentabilidade e, claro, tendências com as coleções para o Verão 25 ou qualquer que seja a estação que a marca preferir.

“…eu tenho uma sensação quase unânime, que é a volta pro Parque Ibirapuera, porque nasceu aqui. Aí, todo mundo reconhece esse lugar como a casa da São Paulo Fashion Week, então acho que isso é um acerto, sem dúvida nenhuma. Resgatar as grandes exposições que a SPFW produziu e, nesse momento, contar a história da Regina Guerreiro. Além de ser a história da Regina, tem um propósito, que é falar de memórias, as nossas memórias de moda, pra que essa geração possa conhecer mais detalhadamente ou mais profundamente como que chegamos até aqui”, afirma Paulo Borges

Então, vamos às passarelas?

A moda brasileira é reverenciada em suas inúmeras culturas, cores e sabores, onde cada cantinho de nosso país pode servir de inspiração para diversas tribos e estilos. O trabalho manual, principalmente do crochê, tricô, aviamentos em madeira e tecidos naturais continuam em alta juntamente com a alfaiataria e a modelagem ampla. O branco reinou em quase todas as coleções, assim como os tons da natureza onde entram terrosos, esverdeados, beges, cru, além do preto, amarelo e vermelho.

Em Denim e Sarjas destacamos: calças de cintura baixa, denim premium, patchworks e upcycling, volumes e desconstruções, sobretingimentos e sarjas acetinadas coloridas ou com aspecto cru.

A The Paradise trouxe uma moda divertida, descolada e atemporal mesclada à alegria carioca. A coleção foi embalada pela clássica música da Disney e na passarela estiveram os personagens Pato Donald e Margarida, sem ofuscar, é claro, o brilho de Fernanda Lima e seus filhos gêmeos que andam fazendo sucesso em várias marcas. As roupas são para todos os estilos e ocasiões. O Lyocel da Lenzing nos tecidos da Canatiba estiveram presentes nas calças amplas e no look de Fernanda, com aplicação de paetês. Estampas dos personagens Disney vêm com uma pegada tropical e permeiam desde vestidos, camisas, bermudas até saias e casacos. A calça vem com cintura baixa e o animal print surge em saias sereias, tops e calças sequinhas para eles.

Conhecido pela alfaiataria moderna, Rafael Caetano buscou inspiração na obra de Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, com direito à presença do próprio autor na passarela. Destaque para as sarjas com recortes, drapeados e detalhes de aviamentos e estampas exclusivas que aparecem em peças fluídas.

O denim de Alexandre Herchcovitch traz uma alfaiataria precisa no baby blue e com recortes estratégicos, nas laterais das calças com boca de sino amplas. O macacão vem na mesma pegada como se fosse uma sobreposição de tecidos. Há espaço ainda para o denim raw com fibras nobres na modelagem reta e o mix de artigos numa geometria perfeita. As sarjas também são limpas e clássicas no vermelho e no branco.

Amapô Jeans trabalha o upcycling em todas as suas coleções recriando peças totalmente inovadoras. Looks all denim surgem em casacos desconstruídos com puídos, calças amplas e o modelo queridinho da marca, a flare com uma pegada dos anos 70. A mistura de materiais mescla o jeans e a sarja em modelagens oversizeds para eles e para elas. Jaquetas esportivas surgem combinadas às calças com lavagens diferentes. O efeito matelassado aparece com aplicação de botões e permeia jaquetas com recorte quadrado e a calça com boca super aberta que ganha efeitos de reserva de cor em lavanderia.

O conhecido patchwork de retalhos, de coleções passadas, ganha vida na jaqueta motocycle usada como vestido e na calça de cintura baixa. Outras sobras de tecidos surgem como aplicações milimetricamente colocadas no top e na microssaia.

Acinzentados, peças descarregadas e o denim premium, somente amaciado no azul médio chamam atenção. Destaque ainda para o vestido evasê construído em camadas, jaquetas e saias desconstruídas e com sobreposições, volumes, drapeados e calças com recortes e efeitos destroyers. Navalhados, o delavê e manchados na malha denim surgem em diferentes peças.

Na Another Place o denim é underground e traz muitos trabalhos em lavanderia com sobretingimentos em tons como o laranja, vermelho e o marrom na base blue ou black. A coleção “Hardy” traz texturas que surgem em estampas gráficas que parecem camuflados. As modelagens são oversizeds em bermudas, jaquetas e calças. Destaque para os marmorizados das jaquetas biker e os vazados e ilhoses e amarrações na sarja black, o delavê e o black blue da calça sequinha masculina. Looks no preto também ganham listras contrastantes e metalizados. No denim, o tom chega no acinzentado com esbranquiçados. As modelagens amplas com barras alongadas continuam em alta, juntamente com cinturas super baixas com calcinhas e cuecas boxers aparentes.

Já a Sou de Algodão trouxe a coleção “Manualidades – Raízes da Moda Brasileira” reunindo 12 estilistas em 36 looks produzidos através de técnicas manuais como crochê, tricô, macramê e aplicações. Além disso, 70% da matéria-prima usada é o algodão rastreável. Os estilistas que fazem parte do desfile são: Adriana Meira, Ateliê Mão de Mãe, Catarina Mina, David Lee, Heloisa Faria, Igor Dadona, João Pimenta, Martins, Ronaldo Silvestre, Thear, Walério Araújo e Weider Silveiro.

Aqui as sarjas colors ganham destaque no mix de tecidos que formam geometrias no branco e bege ou no white com flores aplicadas. Estampas florais surgem em looks com volumes em saias e calças em tons terrosos e com aspecto decór. Fios aparentes, palhas, aviamentos naturais são detalhes que chamam atenção.

O estilista Dario Mittmann estreia na SPFW com a coleção “Dupe: A Streetwear Parody” onde entram uma miscelânea de referências que vão das ruas às referências à cultura brasileira. Ele trabalha a ornamentação e o upcycling no denim onde entram spikes com estampas a laser no look casaco e calça utilitária de cintura baixa, navalhados na calça com cós duplo e efeitos detroyers no blazer no blue e no black. Até o chapéu surge no jeans com tachas e desfiados. O denim com aspecto de crochê vem trabalhado na calça-short com vazados e no top jaqueta com zíper, gola e bolsos frontais. A pegada artesanal vem nos quadriculados na base leve do denim bruto.

A produção “alegoria de carnaval” ganha a companhia da calça de cintura baixa no shape pantalona construída através do patchwork. O visual vaqueiro moderno vem com chapéu decorado com meia arrastão também usada por baixo do top brilhante e na calça no baby blue com braguilha com ilhoses e rendas sobrepostas.

Dendezeiro abusou do denim raw em diferentes tons de azuis com brilho ou tingimento uniforme. Destaque para peças funcionais em bermudas e calças matelassadas, jaquetas, maxi bermudas com mini bolsos na barra e macacões com patches e desfiados. Os blazers e calças são confortáveis e amplos. Sarjas no marrom ganham cerzidos nas laterais do denim leve.

Gefferson Vila Nova também utilizou o jeans premium com aspecto brilhante em sua moda masculina que mescla o street e o casual em calças com amarrações e shorts curtinhos com elástico nas cinturas.

A “Gambiarra” da marca LED vem na passarela através de fiação elétrica que faz menção ao tema da coleção. Um mix and match revela o jeans com Lyocel com toque macio e brilho em mistura de tonalidade em peças utilitárias e casuais como calças clochard, camisas, jaquetas esportivas, shorts e bermudões. Aqui também entram os sobretingimentos no marrom e upcycling geométrico e descolado.

A marca Martins de Tom Martins gosta de trabalhar o maximalismo em volumes, metalizados, estampas e cores. Sua sobreposições ganham vida com o denim raw em vestidos e jaquetas com zíperes e saias com pontas. Algumas calças surgem com o cós alto e franzido arrematado com cordão e faixas no white denim. O colete delavê com marmorizados vira a parte de cima do vestido em lamê e cetim. A wide leg ganha faixas laterais com detalhes dourados. Patchwork de calças jeans Levi’s surge em diferentes peças, cobertas por etiquetas da marca Martins.

Uma coleção colorida com destaque para o vermelho e roxo juntamente com o denim raw, chama atenção na passarela da marca Santa Resistência de Mônica Sampaio que trouxe sua ancestralidade como inspiração para peças que ganham aplicações e detalhes nas barras além de franjas e babados. Linda a combinação das cores lilás e turquesa no conjunto sportwear masculino.

À La Garçonne e Apartamento 03 utilizaram a sarja acetinada com detalhes como brilhos ou frisos, palas e abotoamento duplo.

Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Divulgação

Foto: Reprodução

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